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A "neurose" dos percentis
07-10-2012
Público
  Durante muito tempo, os percentis eram do desconhecimento dos pais, e até de muitos profissionais. No entanto, cada vez mais, os pais se interessam por saber em que percentil está o bebé, às vezes de forma quase obsessiva, levando a uma certa "neurose" ou "ditadura" dos percentis.

Ao contrário do que alguns pensam, crescer no percentil 10 não quer dizer que cresce apenas 10% do que se deve. As curvas de percentis são médias de medições rigorosas de milhares de crianças, em várias idades, que definem vários pontos.

Não se trata de um "filme" da evolução de várias crianças, mas mais de "fotografias paradas" de uma série de crianças, nascidas, portanto, com um intervalo de 18 anos, em que muita coisa acontece. Por outro lado, as curvas são elaboradas a partir de dados de populações que mudam com o tempo, sobretudo em países como o nosso, com rápida evolução socioeconómica. Acresce que, para elaborar uma tabela, é preciso milhares de medições, muito rigorosas, e, na minha opinião, atendendo ao que se espera das curvas, gastar uma enormidade para ter, por exemplo, uma curva "portuguesa", que rapidamente se desactualizaria, parece-me um perfeito desperdício e uma inutilidade. Claro que isto não quer dizer que não se actualizem adaptando curvas de outros países que possam espelhar melhor a nossa realidade, não esquecendo, todavia, as grandes transformações que, por exemplo, os fenómenos migratórios vieram dar ao nosso país.

Daí ter que se dar aos percentis o seu devido lugar. Sendo um instrumento importante, não é correcto descer ao pormenor do "percentil 14 ou 15". O que interessa é que uma criança tenha curvas equilibradas, quer na evolução com o tempo, quer entre as várias curvas (peso, estatura e perímetro cefálico), salvaguardando algumas acelerações e desacelerações dos primeiros doze meses, que podem ter a ver com o ajustamento do tamanho intra-uterino ao verdadeiro tamanho genético, bem como naturais discrepâncias de quem é leve ou pesado, "cabeçudo" ou não, mas tudo dentro da normal variação do ser humano.

A Maria estar na curva 25 dos percentis significa apenas que, dispondo cem crianças da mesma idade e sexo, por ordem, a Maria teria 75 mais pesadas e 24 mais leves. O Manel estar no percentil 90 de altura significará que tem apenas 10 à sua frente nessa disposição e 89 atrás. Apenas isto, tal e qual acontece à população geral.

O mesmo se passa com os outros parâmetros biológicos: tensão arterial, temperatura, etc. Qualquer fenómeno biológico pode ser medido em termos de percentis. É apenas isto.

O que interessa, pois, é saber o seguinte:

- os vários percentis do bebé estão mais ou menos em sintonia? Ou seja, especialmente o peso e a estatura estão equivalentes (embora possa haver pessoas mais pesadas sem serem gordas e pessoas mais leves sem serem magras)?;

- o bebé tem tido uma evolução regular, sem se desviar rapidamente em muitos degraus da escala? O cruzamento de curvas de percentis só tem significado se for muito rápido e apenas num parâmetro, ou se for muito grande. Caso contrário, pode ser apenas um "acerto", de que se falará mais adiante;

- o percentil do bebé está acima do 95 ou abaixo do 5? Quando assim é, ainda estamos na normalidade, mas acima do 97 e abaixo do 3 (que as nossas curvas não contemplam) a probabilidade de poder existir uma doença é maior, embora ainda minoritária (mas, atenção, estamos a falar de probabilidade e não de certeza, e a maioria das crianças nessas faixas serão ainda completamente normais!).

Acertar percentis "para cima" significa que o bebé está a subir, de modo uniforme, nas várias curvas de percentis, provavelmente porque, por razões da sua estadia intra-uterina, terá nascido mais pequeno do que o seu real tamanho determinado pela genética. Embora represente a mesma coisa que acertar "para baixo", causa menos problemas aos pais porque quando o objectivo é crescer, "decrescer" no que quer que seja, relacionado com o crescimento, é sempre fonte de preocupação e gera ansiedade, mesmo que o facto seja fisiológico e normal. Nem sempre o tamanho resultante da vida intra-uterina coincide, pois, com o tamanho real, e o acerto far-se-á nos primeiros meses de vida, podendo ir até ao ano, ano e meio.

Artigo de Opinião In Público, por Mário Cordeiro - Pediatra


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